Há bastante tempo conheço o termo. O caso é que há alguns dias, conversando com um amigo, sobre um álbum de prog (rock progressivo), usei o termo e, de repente, aquela cara de “que bruxaria é essa?”. Pois bem… É muito provável que você já tenha escutado um disco conceitual, ou um concept album.
Um entendimento simples pode ser feito levando-se em conta a idéia de continuidade, ou seja, um álbum cujas musicas estejam diretamente interligadas faixa-a-faixa, como se a música não fosse ter fim, ou continuidade da idéia na faixa seguinte, quase como uma história única. E este é um segundo entendimento. Um álbum que conta uma história, esta idéia é mais comum.
Pink Floyd – The Wall (1979)
Daí que pensei nas óperas! Por que uma ópera não é um disco conceitual? Ou é? Possui os elementos para serem definidas como tal, mas… Bem… Melhor deixar pra um aprofundamento via pesquisa, para que seja tudo bem fundamentado e eu não estar falando besteira. Mas consigo identificar, com certa facilidade, discos conceituais no meio do rock progressivo. E um dos primeiros álbuns que ouvi, que podemos classificar como um concept album, é o The Wall (1979), um verdadeiro masterpiece do Pink Floyd. Também definido como uma ópera rock, o álbum conta a história de Pink, um protagonista que teve o pai morto na Segunda Guerra Mundial, e cresce reprimido por uma mãe superprotetora, e na escola por professores tirânicos. Estes traumas sofridos compõem os “tijolos” do “muro” em que se fecha. O garoto cresce e se torna uma estrela do rock, sendo consumido pelas drogas, infidelidade e crises de violência. Até que num determinado momento enlouquece, torna-se um ditador, os traumas sempre o atormentando, enlouquecendo… Enfim! Uma história para se ir acompanhando do começo ao fim. Bem linear mesmo.
The Who – Tommy (1969)
Um outro disco conceitual muito famoso é o Tommy (1969), do The Who. Aqui, o protagonista (Tommy Walker) é um garoto cujo pai é dado como morto na Primeira Guerra Mundial. Um belo dia, o pai volta para casa e encontra a esposa com o amante. Enfurecido, o pai assassina o ricardão, e Tommy assiste a tudo através de um espelho. Seus pais, então, o fazem acreditar que ele não viu, não ouviu, e nem comentará nada com ninguém. Consequência: Tommy se torna cego, surdo e mudo. Então ele tem uma visão de um estranho barbudo que o leva numa viagem espiritual. Durante sua infância, Tommy sofre muitos abusos, como ser levado a uma prostituta que o droga, vive apanhando do primo e é molestado pelo tio, e todas as sensações físicas transformam-se em música. Já na fase adulta, Tommy encontra um jogo de pinball num ferro-velho e põe-se a jogar, e se torna o melhor do mundo, conquistando uma legião de fãs. Num determinado momento, um médico aparece com a garantia da descoberta da cura para a cegueira de Tommy, e o põe em frente a um espelho. É quando Tommy volta a enxergar, percebendo seu próprio reflexo. Só que a mãe acaba destruindo o espelho, e Tommy se liberta daquela “prisão”, considerando-se um iluminado. Cria, então, uma seita e atrai seguidores por onde passa. Só que as regras são cada vez mais duras, e uma hora os seguidores se rebelam contra ele. Mais uma ópera rock! E mais um álbum primoroso!
Dream Theater – Metropolis Part 2: Scenes of a Memory (1999)
Dando continuidade a cada fim de década (pura coincidência, juro! rs), em 1999 a banda Dream Theater lança também um disco conceitual. Metropolis Part 2: Scenes of a Memory é mais um “discaço”! Aqui já não há pai de ninguém morto numa Guerra Mundial. Trata-se de uma regressão a uma vida passada, pelo protagonista Nicholas. Antes de mais nada, o álbum é dividido em dois atos. O primeiro ato começa com Nicholas num hipnoterapeuta, realizando uma regressão para se curar de imagens que tem em seus sonhos, que vivem a lhe atormentar. Ele então descobre ter sido uma jovem chamada Victoria Page, em 1928. Nicholas então resolve ir à casa que aparece em suas lembranças, e lá encontra um senhor de idade que lhe conta sobre o assassinato da jovem, naquele lugar. Ele então retorna ao hipnoterapeuta e faz nova regressão, descobrindo desta vez num jornal que o crime havia sido passional e o assassino, um jovem chamado Julian Baynes, havia cometido suicídio logo em seguida. No segundo ato, a história muda de visão. Começa com Julian atormentado pelo fim de seu relacionamento com Victoria, por conta do álcool e da jogatina. Seu irmão, Edward Baynes, também acaba entrando em conflito, pois Victoria havia lhe contado sobre o fim da relação, e o malandro acaba se apaixonando pela mocinha. Edward seduz Victoria e.. Pimba! Apesar de tudo, Victoria e Julian acabam reatando e Edward, tomado por fúria, resolve marcar um encontro com os dois naquela casa, para matá-los. Após o feito, Edward põe uma carta suicida no bolso de Julian para despistar a polícia. Então Nicholas retorna da hipnose, volta para casa, liga a tv e serve uma bebida. Logo depois, alguém chega na casa e ouve-se a voz do hipnoterapeuta falando: “Acorde, Nicholas” e um grito. Na verdade, o hipnoterapeuta é a reencarnação de Edward, que vai até a casa de Nicholas para selar novamente o destino de ambos. Legal, né?
King Diamond – The Graveyard (1996)
Agora uma história mais macabra, praticamente um filme de terror. O álbum The Graveyard (1996) é mais um dos discos conceituais do ex-vocalista do Mercyful Fate, King Diamond. Seus outros álbuns solos também são histórias de terror, fictícias ou reais. Agora também abandonamos o gênero progressivo e entramos num clássico heavy metal. Vamos à história, então. Aqui, o protagonista (o próprio King) é um empregado de um prefeito corrupto e pervertido. Certa noite, King encontra o prefeito McKenzie molestando sua própria filha, Lucy, de mais ou menos 7 anos. Apesar de denunciá-lo, o prefeito alega que King é louco e o envia para um hospício. Ali, King aguarda o momento ideal para a fuga e, após muitos anos, a executa. Conseguindo escapar, fica escondido da polícia num cemitério e lá, trama sua vingança contra o prefeito McKenzie. E quem passava pelo cemitério, tinha lá seu fim. King, obcecado com a idéia de que quem morresse decapitado naquele cemitério, tinha sua alma aprisionada na cabeça (decapitada, claro). Ele então consegue sequestrar a menina Lucy Mckenzie, faz a garota adormecer e a enterra viva em um dos 7 túmulos que ele havia preparado, cada uma com a inscrição na lápide “Lucy forever” (ou para os conspiradores: Lucifer Ever..rs), e contacta o prefeito para vir ao cemitério à meia-noite, para um joguinho macabro. Assim que o prefeito chega, King aparece para ele e o nocauteia. Ao recobrar os sentidos, King lhe entrega uma pá e o manda cavar sua filha de um dos 7 túmulos, sendo que havia apenas 3 chances. Acaso falhasse, King mataria ambos. Na terceira tentativa, o prefeito acerta, mas King o nocauteia novamente e o amarra a uma das lápides. King então retira Lucy do caixão, e começa a torturar o prefeito, mas não percebe quando Lucy encontra um cabo que sustenta uma janela com o vidro quebrado e o puxa, decapitando King e aprisionando sua alma em sua cabeça. Convencida pela cabeça de King, Lucy guarda a cabeça em sua mochila e leva consigo, para que ele a proteja de futuros abusos do pai. Como todo filme de terror, uma diversão!
The Decemberists – The Hazards of Love (2008)
“Que horror! Não tem algo mais leve, romântico não?”. Tem sim. Em 2008, a banda The Decemberists (de indie rock/folk) lança um disco conceitual bem legal: The hazards of love (os perigos do amor). Já li críticas ferrando este álbum, mas pessoalmente gostei. O álbum conta a história de Margareth e seu amor quase impossível, William. História: A princesa Margareth, uma jovem fada, está passeando pela floresta e encontra um veadinho machucado. Ela, então, cuida dele e o veadinho se transforma no jovem William (hahahahaha), por quem ela se apaixona e acabam fazendo amor. Ela engravida e William declara seu amor por Margareth. A irmã de Margareth percebe sua gravidez e resolve anunciar o fato para a mãe. Mas a mamãe de Margareth, a fada-rainha da floresta bem ciumenta, não fica feliz com a união dos dois e decide separá-los a todo custo. Para isso, contrata o vilão da história: Rake, um capataz que mata seus próprios filhos, cujos espíritos depois se vingam. A rainha o ordena para sequestrar sua filha princesa e dar cabo dela. Rake então cumpre a ordem, e William vai atrás para impedir o destino de sua amada. Enquanto a princesa está sendo levada por Rake, ao tentarem cruzar um rio, os espíritos dos filhos do capataz aparecem para se vingarem. William recupera Margareth, mas não conseguem retornar até a margem, e morrem afogados. Enquanto afundam, fazem uma jura de amor eterno, clarificando que, na morte, os perigos do amor não mais os perseguirão. E serão felizes para sempre. Quase um conto da Disney, não? rs.
Chico Buarque – Ópera do malandro (1979)
E brasileiro também sabe fazer disco conceitual! Que tal o famosíssimo Ópera do Malandro, de Chico Buarque? Sim, podemos considerá-lo um disco conceitual. Quanto a este, bem, eu já havia escrito um review noutro post, então irei evitar esta redundância, ok?
Embora existam outras centenas de discos conceituais, mas acho que para um único post, já bastam estes citados, né? Qualquer recomendação, sempre acho bem-vinda, afinal, todo bom aprendizado tem seu valor garantido.
Até a próxima, pessoal!
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Link para King Diamond: http://www.mediafire.com/?js2nd4d8f4742gh
Link para The Decemberists: http://www.mediafire.com/?8rj8vfsncjfjx08
Link para Chico Buarque: http://www.mediafire.com/?zrudaay3alqaui6