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Arquivo da categoria: Porta Retrato

Mudando de assunto, de novo

Brigaram comigo porque eu tava falando muito sobre política. Então vou mudar de assunto.

Anatomia, filosofia de boteco, exercícios, musicalidade e suas consequências.

Tem gente que se gaba de ter peito (peitões, no caso), ou de ter bunda (bundão) ou bíceps (bicepão?) e tem muitos, geralmente desprovidos desses predicados físicos que dizem que é melhor ter cérebro.

Há quem tenha peito, bunda, bíceps e, pasmem, tenha cérebro também. E dê valor a ele.
Mas em todo caso o problema é um só: conteúdo.
Das mamas, dos glúteos, braços ou do cérebro.

É certo que todos temos cérebro, embora alguns o usem mais como acessório ou opcional, e não como um item original de fábrica. Mas alguma coisa todo mundo tem na cabeça, já que Gusttavo Lima não canta aquelas coisas do nada.

Também já está comprovado cientificamente que o cérebro para se desenvolver, precisa ser exercitado. Por isso cai bem desde cedo ir logo entulhando um balaio de “sabidez”, como diz Noure, na caixa de pensamentos. Mas é bom ir adiantando que não basta o acúmulo de conhecimento, se não souber como utilizá-lo.
Em outras palavras, a cultura é o alimento do cérebro, mas tem gente que faz dieta ou utiliza alimento errado.

Havia, nos anos 90, uma teoria que axé, por exemplo, murchava o cérebro. Mas Xanddy dizia que era preconceito.

É o cérebro que comanda todo o resto do corpo, logo vai ensinar a quem tem peito/bunda/bíceps a utilizar da melhor forma esses atributos. O próprio Xanddy mostra que seu cérebro anda muito bem a cada mexida.

É o cérebro que comanda também o coração, que não passa de um músculo. Logo os amantes deveriam se declarar dizendo “Te amo do fundo do meu prosencéfalo!”. Soa frio e falso, mas é o correto.

Algumas pessoas dizem que conversam com seus próprios cérebros, como é o caso de Diumbanda. E tem hora que ele dá cada palpite, que era melhor não ter pensado muito. Como a descoberta de um dos fundamentos da álgebra moderna: “dezenove não é vinte”.

Também é maldade dizer que a cor do cabelo influencia a qualidade do funcionamento do cérebro, mas Alinne Rosa (que já foi rosa, loira e morena) alertava: “é preciso ter cuidado na hora de trocar idéias… se sentir que o outro é fraco, é sempre bom pedir volta”.

Dizem as boas línguas que a inteligência é afrodisíaca. Mais até que os peitões, bundões, bíceps e outros atributos menos votados.
Uma boa reflexão, então, pode ser considerada quase como uma masturbação.
Sexo tântrico deve ter surgido daí.
Já um bate-papo inteligente, daqueles que não dá vontade de parar, é uma relação sexual completa.
Se for com um(a) profissional do ensino, a quem chamamos de professores, teria orgasmos múltiplos de forma mais fácil.
Se for profissional de História então… É bom ir triplamente precavido.

 
 

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Notas sobre os desencontros de inverno

Estamos na farmácia. Farmácia de supermercado 24h. Procurando sal de frutas para curar a azia. Comemos salgado empanado com frango triturado. E suco.  Assistimos “Elena”. Bianca chorou no carro.

Deixamos a câmera com Ceci. Minha câmera vermelha e velha. Outro dia pegou vírus pelo cabo USB. Pesquisa na internet agora resolve tudo e o vírus do computador foi embora. Mas a câmera está infectada e os pendrives também.

Elena desconfortou. Lá, assistindo, achei tudo muito. Tudo demais. Agora, relembrando, acho que fui injusto. Agora não estou mais na farmácia. Nem no cinema. Estou aqui.  Mas a azia vem e vai, o tempo todo.

Azia que nem é mais de Elena, ou da câmera infectada, mas de tudo mais que tropeça em cavalos de Tróia.

Lembrei da professora de inglês do ginásio. A diretora da escola reuniu algumas turmas na mesma sala para comunicar o incomunicável.

“A professora morreu em um acidente de carro”

Era mentira.

Algumas pessoas choraram. Eu não lembro o que fiz.

Depois descobrimos que ela havia se matado.

“Descobriu que estava grávida. Havia terminado com o namorado. Tinha depressão”.

Ela era muito jovem. Eu também.  E naquela época não entendia a lógica de um suicídio. Anos antes, havia surtado quando me dei conta da minha mortalidade e passava as noites sem dormir, pensando que morreria um dia.

Ela era nova na escola. Não tinha mais de um mês. Nos fez ouvir uma música de “Dido”. “Thank You”. Ela gostava daquela canção.

Pessoas entram e saem da nossa vida a todo instante. Estamos nos chocando em vias sem sentidos obrigatórios.

Outro dia, me choquei com o senhor Philippe e seu complicado coração, através de um e-mail enganado.

Marcus,

Ontem, pela manhã, uma Senhora (…) telefonou e me disse que haveria nova avaliação do senhor (…) e, se fosse o caso, à tarde seria transportado para o (…).

(…) me disse à noite que ele foi operado da vesícula, estava na hora pois já supurada, mas já estava no pós-operatório.

Assim, e mais uma vez, em nome de toda a família, OBRIGADO. Valeu, Presidente!

(…)

Philippe,

Acho que houve algum equívoco. Não nos conhecemos e desconheço completamente o contexto do e-mail. Favor verificar o endereço do destinatário.  

(…)

Marcus,

Me perdoe. Tem toda a razão. Você tem um homônimo – pessoa excelente e do melhor nível ético segundo a opinião deste idoso de 81 anos . Ao digitar o seu nome, apareceram três opções de e-mail e cliquei numa das três. Opção errada… Realmente, cheguei tarde à idade da internet. Peço desculpas por minha inabilidade, e agradeço a gentileza do aviso.

(…)

Phillipe,

Sem problemas. Espero que o “verdadeiro” Marcus Curvelo receba as suas mensagens. E você é apenas um ano mais novo que meu pai, então não se sinta tão deslocado assim.

Boa sorte e tudo de bom.

(…)

Ele continuou enviando e-mails por engano. Tentei avisá-lo novamente. Desta vez, de maneira mais gentil.

Olá, Philippe. Tudo bem? 

Continuo recebendo seus e-mails por engano. Mas não se aborreça. A questão é que o verdadeiro Marcus Curvelo não está recebendo as suas mensagens. Tente ver o final do endereço de e-mail. Quando aparecer “@gmail.com“, sou eu.

Cordialmente,

“Falso” Marcus Curvelo

(…)

Prezado Marcus Curvelo,

Difícil admirar mais alguém que sequer conheço. A sua invariável gentileza toca o meu complicado coração; perdoe um velho tonto, que briga com o seu teclado e já não enxerga bem qualquer coisa abaixo de uma fonte 14.

Quando digito o nome de Marcus Curvelo, aparecem algumas opções já completas. Evito o endereço oficial de meu amigo e opto por…gmail, quando o dele é (…).

Mea culpa, mea maxima culpa.

Tentarei que não torne a acontecer. Como poderia assegurar que não recomeçarei a mesma tolice? Não incidir mais em senilidade?

Agradeço a acolhida.

Perdão e ótimo final de semana. Numerólogos devem explicar a causa de Marcus Curvelos serem pessoas tão bacanas.

(…)

Talvez ainda fosse a azia. Ou talvez fosse a solidão momentânea de mais uma madrugada em que eu procrastinava mais um trabalho qualquer. Mas eu me abri com o senhor Phillipe.

Prezado Phillippe,

A verdade é que gosto destes (des)encontros. Veja, sou cineasta, ou pelo menos gosto de pensar que sou um. E entre os minúsculos curtas-metragens que produzi durante esses primeiros anos de labuta, cambaleei entre pessoas chatas e trabalhos chatos, em um marasmo de idas e vindas sinuosas que não me levaram a muitos lugares. Quando um Francês de 81 anos me envia um e-mail (te pesquisei no google), mesmo que por engano, é algo para ser celebrado! 

Portanto, não se preocupe com esses embaraços cibernéticos. Tenho buscado cada vez mais o desencontro. E enquanto ainda estiver preso em trabalhos acadêmicos, empregos ruins e roteiros inacabados, será isso, encontros com pessoas bacanas e distintas, que impulsionará o meu também complicado coração. 

Grande abraço.

(…)

Já se passaram duas semanas. Talvez tenha assustado o senhor Philippe, ou ele finalmente excluiu meu e-mail de sua caixa de entrada.

Ou nos desencontramos. Da mesma maneira aleatória como nos chocamos da primeira vez.

 
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Publicado por em 17 de setembro de 2013 em Match Point, Porta Retrato

 

Entremeio (aqui entre duas coisas)

Todo dia faço e desfaço minha mala
De manhã quando acordo planejo meu retorno
Mas passado o meio dia, me acostumo mais com este lugar

Eu me mudo e fico igual e nem sei mais quem eu sou
Cada dia a saudade fica mais irresistível
Mas minha nova terra me apega a cada dia com mais força

E cada dia viajo muitos quilômetros por dentro da minha cabeça
Num trem imaginário, pra lá e pra cá
Viagem sem fim entre o guarda-roupas e a mala
E nesse entremeio está o meu mundo.

longo trecho em declive

 
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Publicado por em 27 de julho de 2013 em Guerra dos Sexos, Porta Retrato, Pseudo Cult

 

R$1,00 ou Um conto/real

   Hoje, como qualquer dia típico, acordei ciente de minha primeira atividade de todos os dias: Desligar o alarme do despertador de meu smartphone. Naturalmente, já percebo avisos de dois e-mail’s no Hotmail, um no Gmail, todos prováveis spam’s, e uma chamada não-atendida. Chamada não-atendida? E lá vou eu averiguar quem havia me ligado durante a madrugada, às três e pouco da matina. O primeiro choque do dia: Número desconhecido! Um mix de inconformismo, desconfiança e paranóia sempre me leva a discar para o número desconhecido, na leda esperança de que aquele número esteja salvo na memória e, assim, o mistério seja resolvido. Mas como já era de se esperar, não estava salvo nem na memória do smartphone, nem em minha memória, nem em memória alguma!

   A irrelevância de algumas informações puseram-se à vã tentativa de abrandar minha curiosidade. O prefixo discado indicava a mesma localidade onde eu me encontrava. Os primeiros dígitos do número discado evidenciava a operadora, coincidentemente a mesma que a minha. O caso é: Mas e daí? Nada disso esclarecia bulhufas! E diante desse tipo de ocasião que minha mente começa a fervilhar em pensamentos dos mais diversos possível! Bastava uma fagulha e o estar desperto!

   “Alguém pode ter morrido!”. Como desgraça pouca é bobagem, e notícia ruim geralmente vem em momentos inoportunos, esta primeira probabilidade me pareceu um tanto sensata. Numa madrugada de quarta-feira… Não recordo de qualquer aniversário, despedida de solteiro, feriado ou qualquer situação de celebração, motivo para estender a noite de terça e varar a madrugada da quarta, portanto, as chances de algum amigo ter espatifado o carro num poste ou capotado diversas vezes na Paralela, tornavam-se minoritárias nesse concurso. Quiçá, então, algum parente – e se o for, que seja algum detestável e que esteja merecendo o próprio inferno! – que estivesse internado num hospital, sendo observado em alguma UTI, ou acamado em algum leito particular… Mas não. Não havia notícia de ninguém da minha família em qualquer hospital, nestes últimos meses. Situação descartada! Um desfecho para o mistério que me perturbava se mostrava cada vez mais próximo, pelo cerco que eu montava.

   Fugindo um pouco do mérito da tragédia, passei a investigar a possibilidade de uma ligação-surpresa. Ainda que enquadrada dentro do cenário da surpresa, um amigo não iria me ligar às três e pouco da madruga, apenas para papear, dar bom dia ou coisa parecida. Poderia, então, ser uma mulher… Que tal alguma ex-namorada, saudosa e imersa em nostalgias românticas… Esta possibilidade, ainda que remota, mostrava-se possível, ainda mais quando se tem em registro a experiência antiga de eventos similares. Quem sabe aquele grande amor, um dia a mulher de minha vida (que acabou não sendo da minha, mas sim da de outro), que encontrou o meu número naquela antiga agenda, ou naquele velho caderno, ou esqueceu de deletar do cartão SIM, e ao re-encontrá-lo, passou a reviver as lembranças de um passado já remoto, que talhou sua alma de momentos ditos perfeitos, em que o amor era palavra séria e honesta, e felicidade emanava do peito para os demais órgãos, num piscar de olhos, num silêncio desconcertante, ou na delícia de um beijo carinhoso, demorado, em que a alma poderia descansar em paz, sempre, pra sempre… E decidiu ligar naquela hora, no meio da madrugada, movida por alguma impulsividade insana de querer ouvir minha voz e dizer tudo o que não havia dito, ainda que tudo parecesse já ter sido dito, mas… Mas como não houve uma resposta imediata, desistiu de insistir da sequência de toques de chamada, e desligou… Não. Não poderia ser ela. Ela se casou, teve filhinha, vive a vida conjugal que pediu a Deus (imagino..), e não teria motivos para lembrar da minha existência, e acaso lembrasse, teria buscado um número de telefone que abandonei há anos, e meu novo número ela não possui. Às três da manhã ela não investigaria amigos e amigas em comum, atrás de meu número atual. Isso é coisa de filme romântico e nunca aconteceria comigo na vida real. Muito esforço por/para mim? Só minha mãe, ao me parir. Consideração patética esta. E mais: Ela me escreveria um e-mail. A depender do meu comportamento em resposta, ela me ligaria. Mas não me ligaria assim, diretamente… “A vida não é um filme, você não entendeu?” (Paralamas do Sucesso). Próxima!

   A espetacular personal trainer da vizinha-gorda-velha. Sempre que vou fazer minha uma-hora de corrida e elas estão lá, a personal sempre me recebe com um “bom dia! tudo bom?”, acompanhado de um sorriso que é um sonho à parte. Aquele sorriso não podia ser apenas do seu jeito simpático… Ela deve ter perguntado sobre mim para Reinaldo, um dos porteiros daqui do prédio, e ainda descobriu o número de meu celular através dele, deve ter feito ainda um levantamento de meu perfil, através de uma simples busca no Facebook, e decidiu me surpreender numa madrugada de quarta-feira. Não, impossível. Sempre que sonhei acordado, em meio à minha corrida na esteira da academia do meu prédio, fui trazido à realidade ao perceber aquela imensa e brilhante aliança em seu dedo anelar da mão direita. Então sim, garota simpática ela. Não viaja, cara!

   Bem, ontem à noite fiz uma reclamação na página oficial da Halls, no Facebook, queixando-me a respeito do trabalho que estava sendo (literalmente) descascar o papel da bala! Em menos de meia-hora, responderam-me exatamente assim: “nós gostaríamos de conversar com você para entendermos melhor o que aconteceu, tudo bem?! Pode nos informar seu telefone de contato por mensagem privada?(basta clicar na opção ‘mensagem’ abaixo da foto de capa da fan Page)“. Bem, eu mandei o número de meu celular. Mas duvido, DUVIDO, du-vi-dê-ó-dó, que eles tenham me ligado em meio à madrugada para que eu prestasse algum esclarecimento. E se por um acaso do destino, tenham realmente sido eles, nunca mais compro um Halls na vida! Melhor descartar também essa possibilidade.

   Para que ficar apertando meu pobre juízo, já maltratado por tantas possibilidades, possíveis ou não, na tentativa de descobrir quem havia me ligado àquela hora da madrugada? Que tal, simplesmente, retornar a ligação e resolver o mistério? Chegamos, finalmente, ao “W” da questão (porque o “X” já está manjado demais!): Outro dia travei uma saudável discussão sobre meu pensamento que repousou sobre as palavras de um primo meu. “(…) o impossível acontece”. Relutei chatamente que, se é impossível, não acontece de jeito nenhum! Acaso viesse a acontecer, é porque é possível e apenas ainda não havia acontecido… mas se impossível fosse, não tinha jeito: não aconteceria jamais (por ser impossível)! Da mesma forma, sempre “bati o martelo” naquele pensamento de que, se tudo fosse perfeito, seria perfeito e ponto final! Essa história de que não teria graça, de que tudo se tornaria chato, e et cetera et al, sempre disse ser papo de quem não consegue aceitar aquilo que não conhece e nem conseguirá conhecer e, portanto, vai negar a perfeição dos fatos. Se é perfeito, então perfeito é, ora bolas!

   E foi exatamente por isso que não liguei de volta para aquele número desconhecido. Por conta do mistério! Assim que eu ligasse e descobrisse, não haveria mais mistério algum. E a simples existência do mistério moveu um “mundo” inteiro! Por conta dele, fui levado a pensar em amigos acidentados, parentes mortos, paixão antiga melancólica, a simpática personal trainer, a vizinha-gorda-velha, o RH da Halls… Todo mundo envolvido no mundo fantasioso da minha cabeça! Viagem gratuita, ida e volta! E assim, essa minha mente às vezes patética, às vezes paranóica, vai trabalhando e moldando situações fantasiosas que recheiam meu angustiado consciente.

   Pois bem! Não descobriria a quem pertence aquele número, tinha algumas possibilidades (absurdas ou não) a serem consideradas, mas me permito logo à realidade dos fatos: Estava quase entrando no limite permitido para que eu pudesse chegar à tempo no trabalho. E por este exato motivo, decidi pôr os pés no chão, em ambos os sentidos, e determinar finalmente que aquela ligação, no meio da madrugada desta quarta-feira, foi um mero engano. E assim, sigo o meu dia, meu dia-a-dia, considerando sonho como sonho, realidade como realidade, fantasia como fantasia, tudo em seu devido lugar, no caos que é a própria vida.

 
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Publicado por em 24 de julho de 2013 em Porta Retrato

 

Consideração

“Joga todo mal pra fora
Abre o peito e chora em paz
Que é bonito demais”

Tenho pouca coragem de fazer declarações, demostrações públicas de amor, afeto, consideração, principalmente com as pessoas próximas.
Às vezes tenho esta vontade de sair oferecendo as coisas aos desconhecidos, parece que esvazia um pouco essa retração que eu me imponho. Taí, vou sair distribuindo barquinhos de papel por aí… cada um com uma letra de uma música que eu gosto.
Coragem e verdade. Tá, jogo da sinceridade comigo não funciona. Não, não estou mentindo, só não tenho coragem de dizer a verdade e ouvir, talvez uma verdade pior.
Isso sempre piora as coisas para quem convive comigo. Sempre acham que eu estou tramando algo, na verdade eu só penso em como evitar situações.

Acho que todas as pessoas deveriam assistir este filme e ouvir sua trilha fantástica:

“ninguém partiu porque quis, foi a seca que empurrou
quem partiu, partiu chorando… quem ficou também chorou…”

E eu tô escrevendo pouco mas juro que eu volto.

 

Ow, sofrência

Acordar de madrugada pra ir ao banheiro e não conseguir voltar a dormir porque os galos ficam cantando em todos os cantos, como se estivessem conversando, também é uma coisa que só se vê na Bahia.
E é difícil também, ainda mais pra quem vive mais tempo com a cabeça nas nuvens do que com os pés na chão. Dormir logo depois de acordar é complicado, eu viro e reviro e ficam vindo imagens de todas as épocas na minha cabeça.
E olha que uma coisa que eu não tenho é dificuldade em ficar muito tempo parado no mesmo lugar, fazendo a mesma coisa.

Melhor é acordar de manhã cedo com o galo cantando no quintal (e nos outros quintais também), é tipo uma sinfonia. Convivi desde muito cedo com vários segmentos da arte, e tenho influências, claro. Familiares ou não. Sou uma das poucas pessoas do mundo que acha que nasceu no lugar certo.
Cordel com sua xilogravura e literatura cantada, culinária, música, velhos tocando pífano, sanfona, viola, pandeiro, cantadores de todo tipo, poucos realmente estudaram sua arte, mas fazem melhor que qualquer pessoa.

a vida no sertao

“Naquele Brasil antigo
Perdido no desengano
Seu Cabral chegou nadando
E não preocupou com nada
Deu ordem à rapazeada
Mandou barrer o terreiro:
“Me chame o pai do chiqueiro
que hoje eu quero forró,
Toré, samba, catimbó
Que eu já virei brasileiro”

É por isso que gosto de ir à feira. Vejo as “novidades”, como brevidade, relembro velhas gírias, bordões e provérbios engraçados e educadores…
O estranho é todo mundo lembrar de meu pai, meu irmão, minha mãe, minha vó, meu outro irmão, menos de mim… nem sou anti-social assim rs
E todo mundo fala “Passa lá em casa uma hora pra gente prosear” e eu nem sei onde moram, mas fico achando que é só uma maneira de sair sem parecer grosso, como o clássico urbano “Vamos marcar!”…

FEIRA de piritiba'

Nenhum lugar aceitar cartão de débito também é sofrimento, mas como a criminalidade é quase nula, o povo anda com dinheiro no bolso e nem se importa. É até melhor porque paga menos.
E depois da feira do sábado, tem o domingo com missa e culto. Então, a cidade toda tem que estar na igreja nos domingos. A cidade toda também vai estar na praça aos domingos (depois da igreja, claro). Mas o que esperar de um lugar onde todo mundo anda de moto e carro sem carteira? Obrigatório mesmo, só o capacete.

 
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Publicado por em 3 de junho de 2013 em Porta Retrato

 

Mais um outono

29 outonos completados, por pouco. Respondendo a todas as mensagens facebookianas e cada vez mais tendo a certeza de que estou velho… São as emoções contraditórias. Ver o quanto você é lembrado, e agora, beirando os 30 e ainda não cheguei perto do milhão de dólares que eu queria ter nessa idade… rs
Tenso isso de que cada ano a mais é um ano a menos.
E as vontades de fazer nada o dia todo crescendo, porque, com o passar do tempo, fazemos tanta coisa durante o dia que só sobra tempo pra descansar, quando sobra.

niver fail

Aniversário é um dia para, acima de tudo, agradecer por aquelas pessoas terem cruzado o meu caminho e lembrar o quanto sou importante em algumas vidas. Mesmo que eu não os veja, eles estão lá.
Seria bom ter uma saúde melhor e uma memória pior. A não ser que eu já tivesse minha casinha branca no campo, com uma varanda de frente pra vida. Um rio ao lado, uma cachoeira adiante, árvores e uns piazinho enchendo a paciência.

Mas como eu me esculhambo o tempo todo, as coisas não andam. Não repare a bagunça que a varredeira não veio hoje.

Tenho alguns anos criando intolerância à velhice. Não a dos outros, a minha. Acho que vou voltar a fazer umas comemorações psicodélicas e passar a esconder a idade. Se todo mundo se assusta quando eu digo a idade real, deve funcionar. De aniversário eu até gosto. Ainda mais ganhar presentes como os que eu ganho ^^’

bolo de maconha niver psicodelico

E que venha o novo, de novo.

 
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Publicado por em 27 de maio de 2013 em Pior é na Guerra, Porta Retrato

 

Diário de bordo

Música pro post:

Veja como as coisas mudam:

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Não achei passagem para Salvador mais uma vez, mas o final de semana no interior não é de todo ruim.

Voltei a fazer umas coisas que eu não faço há um tempo, tipo dormir rsrsrs
Ainda joguei um futebolzinho, comprei as coisas pro computador funcionar, e descobri que não posso mais deixar dinheiro no banco porque quase ninguém aceita cartão (pelo menos a Águia Branca aceita).

Aqui não está chovendo mas a galera está feliz porque choveu (e muito) na região.

E só agora que eu vi que o celular posta sem eu mandar. Hehehe

Enfim, está tudo em paz e semana que vem sairei da chuva daqui pra ver a chuva de Salvador.

 
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Publicado por em 21 de abril de 2013 em Licença Poética, Porta Retrato

 

Vida

Ainda estou de mudança. Nem sei quando acaba (ou se acaba). Mas tá bom: tranquilidade e paz.

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Publicado por em 15 de abril de 2013 em Match Point, Musicalizando, Porta Retrato

 

A melancolia entre Juquinha e Roger

Estou montando o vídeo do aniversário de Juquinha. Esse não é o seu nome verdadeiro, mas eu e Bianca achamos engraçado chama-lo assim. Seu nome verdadeiro é muito mais sóbrio do que isso. Por enquanto, para nós, seu nome é Juquinha, como todos os meninos de um ano deveriam se chamar. E ele tem um ano. E às vezes ele ri aqui pra mim e eu percebo que crianças podem ser adoráveis, encantadoras mesmo. Há um momento fantástico em que ele me percebe e caminha em direção à câmera, sorrindo. Só agora ouvi que sorri de volta e que nossos risos se encontraram.

Eu pensei em usar algumas músicas da trilha de “Onde Vivem Os Monstros”, mas os pais dele podem estar esperando outra coisa completamente diferente. Há uma melancolia cortante em algumas dessas músicas. Fui com Patati e Patatá. Esse não sou eu, obviamente. Não gosto de filmar aniversários de crianças, ou casamentos, mas é assim que as coisas são. Às vezes, claro. E a melancolia do trabalho solitário nas madrugadas é menos cortante do que a desgraça diária em um escritório de imobiliária, por exemplo. Mas cortantes, cortantes mesmo, sãos as músicas de Karen O, para a trilha sonora de “Onde Vivem os Monstros”. E não há nada que me induza mais ao estado de melancolia do que uma música. Só a morte. E enquanto eu filmava o aniversário de Juquinha, um grande artista estava prestes a morrer. Roger Ebert. Crítico de cinema. Escritor brilhante. Sim, ele era um artista. E sua morte me levou a um surpreendente nó na garganta.

Um dia após a morte de Roger, e dois dias após o aniversário de Juquinha, eu e Bianca fomos a um espetáculo de dança. Em um dos atos, eles tocaram uma música da excepcional trilha sonora de “O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford”, chamada “Song For Bob”. A melancolia se instalava.

Roger escreveu um livro de memórias em 2011, intitulado “Life Itself”. O livro ainda não foi traduzido para português, mas o também crítico Pablo Villaça, amigo e colaborador de Roger, traduziu uma passagem do livro e publicou em seu blog, dias após a morte de seu mentor:

“Eu sei que ela está vindo, mas não a temo, pois acredito que não há nada do outro lado da morte para temer. Espero ser poupado o máximo possível da dor no caminho de chegada. Eu era perfeitamente feliz antes de nascer e penso na morte como sendo o mesmo estado. Sou grato pelos dons da inteligência, do amor, da capacidade de maravilhar-me e do riso. Não se pode dizer que não foi interessante. As memórias de minha vida são o que eu trouxe de volta da viagem. Não precisarei delas na eternidade mais do que precisarei daquele pequeno souvenir da Torre Eiffel que trouxe de Paris.

Não espero morrer logo. Mas poderia acontecer neste momento, enquanto escrevo. Outro dia eu conversava com Jim Toback, um amigo há 35 anos, e a conversa se voltou para nossas mortes, como sempre acontece: “Pergunte a qualquer um como se sente sobre a morte”, ele disse, “e eles te dirão que todo mundo morrerá. Pergunte então: ‘Nos próximos 30 segundos?’. Não, não, isso não. ‘E esta tarde?’ Não. O que você realmente está querendo que eles admitam é: Oh, meu Deus, eu não existo de verdade. Eu posso partir a qualquer segundo.”

Eu também posso, mas espero que não parta. Tenho planos. Ainda assim, a doença me conduziu resolutamente em direção à contemplação da morte. Isto me levou ao tema da Evolução, a mais consoladora de todas as ciências, e me vi envolvido em meu blog em discussões inesperadas sobre Deus, o pós-vida, religião, teoria da evolução, design inteligente, reencarnação, a natureza da realidade, o que veio antes do big bang, o que aguarda após o fim, a natureza da inteligência, a realidade do Eu, morte, morte, morte.

Muitos leitores me informaram que é um negócio trágico e melancólico ir em direção à morte sem alguma fé. Eu não sinto isso. A “Fé” é neutra. Tudo depende daquilo em que se acredita. Eu não tenho desejo algum de viver para sempre. O conceito me apavora. Tenho 69 anos, tive câncer, vou morrer antes da maioria das pessoas que agora leem isso. Esta é a natureza das coisas. Em meus planos para a vida após a morte, digo, novamente com Whitman:

Eu me lego à poeira para crescer da grama que amo,

Se me quiser de novo, procure-me sob suas botas.”

É fascinante a relação de admiração e amizade que Pablo Villaça estabeleceu com Roger Ebert. Ainda este mês, acontecerá a edição anual do Ebertfest, festival de cinema criado pelo Roger, e o Pablo comparecerá. Através de seu Twitter, ele convocou a todos os interessados para uma homenagem ao Roger. Ele imprimirá e encadernará todas as mensagens sobre o Roger que forem enviadas ao seu e-mail e as entregará à sua viúva durante o Ebertfest, como um tributo brasileiro ao mestre. Escrevi uma mensagem.

“Ganhei “Grandes Filmes” como um dos presentes pela minha primeira graduação. Ganhei da gerente de RH do meu primeiro estágio. Conversava com ela sobre a vontade de me tornar cineasta e cheguei a mostrar alguns primeiros trabalhos pavorosos para ela. Foi um choque. Nunca havia lido críticas como aquelas, tão apaixonadas. A crítica cinematográfica se apresentava como possibilidade de realização artística pela primeira vez para mim. E procurei mais sobre o Roger. Muito mais. Tudo o que poderia procurar. Acompanhava o seu site. Consultava-o antes de arriscar qualquer filme. E acompanhava também o seu blog, tão brilhante, íntimo e elegante. Inevitavelmente, afeiçoei-me a ele. É incrível como ele tinha esse poder. Nunca havia alimentado tanto carinho por um artista. Sim, Roger era um artista. Considerava-o como um amigo que morava muito longe e com quem eu me importava bastante. Acho que isso acontecia porque, além de ser dotado de um talento gigantesco, Roger escrevia com paixão e honestidade. Muita honestidade. Por tudo isso, ele ficará marcado para sempre em minha memória afetiva como alguém que ajudou a expandir a minha percepção sobre arte e como um amigo querido que nunca conheci.”

Poderia ter me saído melhor. Mas não há nada pior do que a pieguice. E não vou cair nessa.

Passei os últimos dias lendo muitas coisas sobre Roger, mas o fato é que eu precisava voltar para Juquinha. Ele acabou de nascer e provavelmente vai morrer depois de mim e “da maioria das pessoas que agora leem isso”. Assim como eu estou vivo agora e Roger não.

“Oh, meu Deus, eu não existo de verdade. Eu posso partir a qualquer segundo.”

Mas o que é bacana, e me faz pensar sobre um monte de coisas, é que Juquinha vai guardar esse vídeo por muito tempo. E dividimos aquele sorriso enquanto ele vinha em minha direção. Posso me ouvir. E ele poderá também.

Meu sorriso ecoará com o de Juquinha por alguns anos. É uma bela cena. Roger certamente concordaria. E que Juquinha me perdoe por Patati e Patatá. Estou certo, porém, de que bastará o contexto de um vídeo como esse para leva-lo ao mais intenso estado de nostalgia. E que depois a nostalgia vire melancolia, como deve ser.

Notas:

O site de Roger Ebert: http://www.rogerebert.com/

O seu blog (Que parece fora do ar, enquanto posto): http://www.rogerebert.com/rogers-journal

O site de Pablo Villaça: http://cinemaemcena.com.br/

O seu blog: http://www4.cinemaemcena.com.br/diariodebordo/

Algumas músicas da trilha de “Onde Vivem os Monstros”: Rumpus Reprise / Igloo / Lost Fur (Essa última não ia entrar no vídeo de Juquinha. De jeito nenhum. Mas é a minha preferida. O filme é incrível. Crítica do Pablo e Crítica do Roger.)

Song For Bob, da trilha de “O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford” (Não achei crítica do Pablo e Crítica do Roger.)

 
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Publicado por em 9 de abril de 2013 em Licença Poética, Match Point, Porta Retrato